Não, essa não é mais uma entrevista feita por mim (quem me dera ter a oportunidade de realizar tal feito com a 1ª bailarina do Royal Ballet).
Encontrei um post interessantíssimo no blog Ponta Perfeita, e faço questão de repassar o que li.
Trata-se de uma entrevista da Alina Cojocaru para o jornal britânico Telegraph (Por: Mark Monahan - Publicada em 20 de outubro de 2009)
Encontrei um post interessantíssimo no blog Ponta Perfeita, e faço questão de repassar o que li.
Trata-se de uma entrevista da Alina Cojocaru para o jornal britânico Telegraph (Por: Mark Monahan - Publicada em 20 de outubro de 2009)
Alina Cojocaru - Primeira Bailarina do Royal Ballet |
"Bailarinas são fortes. Elas aguentam qualquer lesão que afastaria a maioria de nós do trabalho por semanas ou nos empurraria pra cama, deixando-nos à base de analgésicos e agindo como vítimas legítimas de uma punição física, durante todo o dia, trancados em casa. Mas elas não só aguentam, elas ainda sorriem.
A romena Alina Cojocaru, primeira bailarina do Royal Ballet
na maior parte da década e uma das maiores bailarinas da atualidade,
mostrou essa coragem por cerca de dois anos e meio. Durante um ensaio,
seu partner a levantou sem segurança e, no mesmo instante, ela sentiu um deslocamento no pescoço. “Mas”, ela diz após alguns ensaios para aquela estréia da temporada de A Bela Adormecida pelo Royal, “eu fiz o que qualquer um faria e continuei dançando por mais duas semanas. Todas fazemos isso”.
A pequena lesão se tornou seu pesadelo
quando descobriu ser um prolapso do disco intervertebral, o que deixou
Cojocaru seis meses de licença. Quando ela voltou, novo desastre. “Pensei que tudo estivesse bem”, disse a bailarina de 28 anos natural de Bucareste. “Você começa a trabalhar mais e cada vez mais, porque pensa que não precisa de descanso e sente que está tudo OK. Obviamente, não estava”.
Após muito negar, ela finalmente
decidiu-se pela cirurgia. Sua performance em Junho do ano passado, na
muito exigente seção “Diamonds” do ballet Jewels de Balanchine – numa atuação brilhante como o Covent Garden nunca viu – revelou o quanto a aposta tinha sido alta demais.
O retorno iminente de Cojocaru ao papel
de Aurora, no conto de fadas assinado pela dupla Petipa/Tchaikovsky, é
então de grande expectativa, não somente para ela própria. “O que se espera em Aurora é o mesmo que se espera em O Lago dos Cisnes”, ela diz. “A
princípio, é exigido um estilo ou uma maneira própria para o papel e
essa pressão é sentida por todas as bailarinas que já os interpretaram
antes. Mas tento não pensar nesses termos. Quanto mais eu danço, mais
aprecio a música, a história; porque é sim uma grande história, um
drama. E agora que estou trabalhando nesse ballet novamente; a cada
hora, a cada dia, é sempre diferente”.
É essa paixão em mergulhar na emoção de
cada personagem que interpreta, de Aurora a Manon, de Manon a Giselle,
que a destaca da simples e mera virtuosidade. Ela poderia facilmente
contar apenas com sua combinação de força, “linha”, leveza e
musicalidade, com sua habilidade quase mágica de preencher um palco
imenso com movimento; mas ela se recusa. E mais: a atuação de Cojocaru
(que também se prepara para uma montagem de Sphinx, coreografia
moderna, de 1977, do americano Glen Tetley) é ainda tão impressionante
quanto era antes de sua lesão e sua abordagem tem amadurecido
consideravelmente como resultado dessa recuperação.
“Não costumava ouvir ninguém”, ela admite, “quando
as pessoas diziam para não trabalhar tanto, não me esforçar demais,
tire férias, tire um tempo livre… Eu só pensava: não preciso de férias –
por que devo parar se não quero isso? Mas você não faz idéia até o
momento em que se machuca e então percebe: eu só ouvia o que queria. E
acabei indo longe demais”.
Completamente restabelecida e vivendo com seu companheiro, o também primeiro bailarino do Royal Ballet, Johan Kobborg, ela seria capaz de repensar algumas atitudes de agora em diante?
“Sim”, ela diz, “é verdade.
Me divirto com isso agora. Antes de cada apresentação, digo a mim mesma:
estou na coxia, com este figuro, esta maquiagem, e não estou apenas na
platéia, machucada, somente assistindo, mas faço parte disso tudo
novamente – não precisa ser perfeito, mas estou aqui agora e estou aqui
para apreciar o momento”.
Logo no início da entrevista, questionei
Cojocaru sobre o que ela considera como seu ponto forte enquanto
bailarina – questão um tanto capciosa de minha parte. Bailarinos, sempre
em suas rotinas exaustivas e imperdoáveis de ensaios, tendem a ser
relutantes em celebrar seus próprios méritos. Ela me olhou com afronta: “Isso não é pergunta que se faça a um bailarino!”
Justo – quais então seus pontos fracos?
Talvez seja uma pergunta tão cruel quanto, uma vez que a mesma rotina
mostra claramente qualquer propensão à vaidade, quando falhas não são
admitidas.
Porém, no dia seguinte, recebi um email de Alina.
“Continuei pensando em uma de suas perguntas”, ela fala, “e
percebi que não a respondi adequadamente. Sinto que minha fraqueza é
duvidar (não há lugar para dúvidas na dança, nem mesmo por uma fração de
segundo!) e minha qualidade é ser honesta comigo e com as pessoas ao
meu redor”.