terça-feira, 13 de novembro de 2012

A dança reinventando a imagem no corpo 2

Siddharta de Angeli Preljocaj foto de Anne Deniau  
A imagem codificada tem peso de lei, sua força representacional é cristalizada nesta aparência imagética, para que esta aparência sirva como modelo estrutural na codificação desta imagem em outros corpos. Esta codificação, portanto, não se dá como efeito de linguagem - que relaciona gestos e afetos - mas por agenciamento orgânico, isto é, como recurso funcional que opera a articulação das imagens, mediante uma determinação registrada como código idealizado.




Esta codificação é resultado da necessidade de um intelecto faminto por sentidos, que reduz uma experiência a imagens, para que a ação possa ser conhecida, mesmo que de forma unilateral (JUNG). Todavia, esta racionalização abstrai a corporeidade, negando a consciência real que se faz no corpo.

Para Nietzsche, a primeira consciência do homem é corporal, é a partir dela que o homem constrói sua realidade. Prescindir desta dimensão é alienar-se da corporeidade (SOARES). Nesta dimensão de alienação, a imagem é uma reconstrução oca, seduzida por sua própria aparência, e só retomada devido à atração instigante desta aparência idealizada.



Vadim Stein Photography
Os ideais de beleza são exemplos desta aparência instigante, que se sustentam a partir de convenções ditadas socialmente, e que reverberam em nós, como imperativos que tentam determinar nossa visão de mundo, como se a imaginação pudesse ser subvertida por este imperialismo alienante. Para tanto, a sociedade reproduz pré-concepções e discriminações que de tão intensas, já não estão do lado de fora - no social - mas também dentro do corpo, como um desejo pulsante, que anseia pela imagem ideal. 

O individuo passa a perseguir estes ideais e recebê-los como seus, para a fortificação da ditadura de uma imagem, que faz uso do corpo para acentuar o processo de descorporificação, tão intensamente promovido na sociedade icônica1. Esta descorporificação se alastra corroendo os sentidos, para a promoção do suporte real da imagem, como se a imagem pudesse se sustentar sem substancialidade, só por sua aparência e sedução estrutural.



Ivan Vasiliev.
O ônus desta perseguição alienada maltrata o corpo e, não raro, o leva a afecções patológicas, como a bulemia, a anorexia e uma infinidade de outros distúrbios de origem nervosa - além de outras disfunções físicas e psicológicas - que mortificam a carne, em função desta busca alienada. A alienação ofusca o olhar com a promessa de um ideal possível, impresso numa imagem eleita.

O corpo da imagem se hipertrofia de tal forma, que os efeitos desta imagem no corpo tendem a ser oclusivos, isto é eles tendem a fechar outros canais perceptivos, para que o corpo opere somente neste nível de percepção, preocupado com a imagem ideal e com a capacidade funcional do corpo em produzir tais imagens determinadas no âmbito social.



Nacho Kamenov
Sob este olhar, o corpo é visto como máquina e o seu fazer se reduz à execução de ordens não próprias do corpo, mas nele instaladas, para o funcionamento de algo maior que tenta subjugá-lo. Nesta perspectiva, os fazeres humanos só se justificam se fazem função a algo.

No entanto, esta visão funcionalista não explica plenamente a existência humana, nem poderia, do contrário não haveria homens, nem mulheres, mas autômatos e mesmo assim, é preciso a ação de uma mente criativa, não plenamente funcional e determinada, mas, antes disto, inventiva e espontânea que possibilite a existência deste artifício.

O corpo, portanto, se relaciona com o real não só em função de algo, mas como movimento original de recriação deste algo. É neste movimento que nasce a experimentação estética como possibilidade de re-construção da imagem no corpo, para que a imagem não faça função a algo, mas seja um fim em si mesma. Este fim se realiza a cada nova insurreição criativa, a cada nova possibilidade tornada evento concreto. 

Fonte: Escola Burlesca de São Paulo
Autores: Flávio Soares Alves e Marília Vieira Soares

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A dança reinventando a imagem no corpo 1

Resumo

Dança é a escrita do movimento poético no espaço. Esta inscrita forma imagens de movimento que estão subordinadas a intenção do poeta, mas que, ao mesmo tempo, se projetam autônomas na sua plasticidade. Como o processo criativo lida com esta dual perspectiva da imagem?


Introdução


Photo Bertil Nilsson
Quando se observa o corpo na dança, a poética desta inscrita gestual no espaço aguça o olhar do esteta, ampliando sua captação visual para campos perceptivos que verificam mais do que mera composição articulada de movimentos, em meio a esta inscrição linear.

O estado de transe, que consome a atuação do intérprete, se projeta para além de seu espaço pessoal e alcança o olhar do esteta, alterando sua percepção. O poeta do corpo faz da articulação motora uma plasticidade cênica e instiga o esteta, neste movimento, a adentrar nesta alucinação artística junto com ele. Poeta e esteta estão ligados um ao outro por este canal perceptivo, aberto à imaginação criativa. As imagens de movimento tecem esta tênue ligação no discorrer cinemático desencadeado pelo intérprete na performance e arrebatam os sentidos do esteta, numa súbita suspensão do entendimento.



Alonzo King Lines Ballet
Laurel Keen and Brett Conway - 2007
Como desdobramento desta ligação momentânea, quando o esteta se dá conta do que está acontecendo, ele vê a imagem motora como manifestação expressiva e por esta via, já nos domínios do entendimento e não da arte em si, só lhe resta a lembrança motora que deu forma à dança. As imagens dinâmicas da imaginação criativa se unificam numa estrutura de imagem, formando uma possibilidade de representação.

O gesto expressivo é uma possibilidade de representação que se inscreve referindo-se a uma atividade interna pulsante no limite entre o físico e o psíquico. O resultado é uma imagem de movimento, ou seja, uma estrutura imagética corporificada, que só é como tal, na sua relação eventual com um sentido. "O material é dominado pela intenção do poeta" (JUNG).





A imagem, portanto, é a unificação de um sentido numa estrutura plástica, isto é, num símbolo. Este sentido, não se dá na visibilidade sem antes ser mobilizado na atividade psicológica do corpo, sua percepção está além de nossa capacidade de compreensão e só se completa, num duplo movimento do olhar que vê a imagem como objeto, na sua materialidade, e a imagem como intensidade expressiva eventual. O sentido, assim como a imagem, é produto de interpretação, que reduz o poema a uma especulação lógica (JUNG).

Há, portanto, uma bivalência da imagem no corpo: ser efeito de um processo criativo que interliga poeta e esteta numa relação artística e ser imagem arbitrária na sua redução especular, isto é, ser unidade objetal, uma forma espaço-temporal, portanto, passível de reprodução e sistematização. A dança não foge desta dualidade e o artista encontra nesta bivalência, um alimento inesgotável de estimulação do seu fazer artístico.




Sarah Lamb and Eric Underwood in Limen.
Photograph Bill Cooper.
O processo de criação da dança é o processo deste constante ultrapassamento da imagem no corpo. Nos interessa verificar como o artista mobiliza estes processos, mediante tendências imperativas, representadas por imagens ideais descorporificadas, para a promoção de um processo criativo que dilui a força estrutural da imagem, dando vazão a um escoamento infinito de imagens à espera de codificação no corpo.

"É que Narciso acha feio o que não é espelho..."

No momento em que qualquer imagem acontece no corpo, o próprio fato de se efetuar já a unifica como objeto concreto. Esta unificação é um esforço do entendimento em organizar os perceptos captados pela visão. Neste processo, a imagem é codificada e aponta para um sentido que justifica sua efetuação. O sentido, portanto, não é inerente a obra, mas é efeito de interpretação da obra.



Fonte: Escola Burlesca de São Paulo
Autores: Flávio Soares Alves e Marília Vieira Soares
 

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Dicas úteis para bailarinos; Entrevistas; Divulgação de audições/eventos - principalmente os realizados em minha cidade (Salvador-BA)/espetáculos/bailarinos/workshops/cursos e etc. Tudo isso você encontra no "Expressão da minha alma", que reúne em um único espaço "de tudo um pouco" sobre o mundo da dança.

Criado em fevereiro de 2012 o blog "Expressão da minha alma" é uma página que criei com o objetivo de compartilhar diversos assuntos relacionados ao mundo da dança, em sua maioria, questionamentos levantados por mim mesma ao decorrer da minha carreira de bailarina. Esse espaço é destinado principalmente a outros bailarinos, que assim como eu gostam de se manter sempre atualizados. Nós bailarinos vivemos em constante aprendizado e foi justamente com essa linha de pensamento que tomei a iniciativa de criar esse blog, afinal, ao publicar algo também estarei aprendendo cada vez mais sobre essa arte, pois antes faço uma breve pesquisa (quando necessário) para postar artigos de conteúdo, com isso, também estarei aprendendo cada vez mais sobre essa arte.

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