segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A dança reinventando a imagem no corpo 1

Resumo

Dança é a escrita do movimento poético no espaço. Esta inscrita forma imagens de movimento que estão subordinadas a intenção do poeta, mas que, ao mesmo tempo, se projetam autônomas na sua plasticidade. Como o processo criativo lida com esta dual perspectiva da imagem?


Introdução


Photo Bertil Nilsson
Quando se observa o corpo na dança, a poética desta inscrita gestual no espaço aguça o olhar do esteta, ampliando sua captação visual para campos perceptivos que verificam mais do que mera composição articulada de movimentos, em meio a esta inscrição linear.

O estado de transe, que consome a atuação do intérprete, se projeta para além de seu espaço pessoal e alcança o olhar do esteta, alterando sua percepção. O poeta do corpo faz da articulação motora uma plasticidade cênica e instiga o esteta, neste movimento, a adentrar nesta alucinação artística junto com ele. Poeta e esteta estão ligados um ao outro por este canal perceptivo, aberto à imaginação criativa. As imagens de movimento tecem esta tênue ligação no discorrer cinemático desencadeado pelo intérprete na performance e arrebatam os sentidos do esteta, numa súbita suspensão do entendimento.



Alonzo King Lines Ballet
Laurel Keen and Brett Conway - 2007
Como desdobramento desta ligação momentânea, quando o esteta se dá conta do que está acontecendo, ele vê a imagem motora como manifestação expressiva e por esta via, já nos domínios do entendimento e não da arte em si, só lhe resta a lembrança motora que deu forma à dança. As imagens dinâmicas da imaginação criativa se unificam numa estrutura de imagem, formando uma possibilidade de representação.

O gesto expressivo é uma possibilidade de representação que se inscreve referindo-se a uma atividade interna pulsante no limite entre o físico e o psíquico. O resultado é uma imagem de movimento, ou seja, uma estrutura imagética corporificada, que só é como tal, na sua relação eventual com um sentido. "O material é dominado pela intenção do poeta" (JUNG).





A imagem, portanto, é a unificação de um sentido numa estrutura plástica, isto é, num símbolo. Este sentido, não se dá na visibilidade sem antes ser mobilizado na atividade psicológica do corpo, sua percepção está além de nossa capacidade de compreensão e só se completa, num duplo movimento do olhar que vê a imagem como objeto, na sua materialidade, e a imagem como intensidade expressiva eventual. O sentido, assim como a imagem, é produto de interpretação, que reduz o poema a uma especulação lógica (JUNG).

Há, portanto, uma bivalência da imagem no corpo: ser efeito de um processo criativo que interliga poeta e esteta numa relação artística e ser imagem arbitrária na sua redução especular, isto é, ser unidade objetal, uma forma espaço-temporal, portanto, passível de reprodução e sistematização. A dança não foge desta dualidade e o artista encontra nesta bivalência, um alimento inesgotável de estimulação do seu fazer artístico.




Sarah Lamb and Eric Underwood in Limen.
Photograph Bill Cooper.
O processo de criação da dança é o processo deste constante ultrapassamento da imagem no corpo. Nos interessa verificar como o artista mobiliza estes processos, mediante tendências imperativas, representadas por imagens ideais descorporificadas, para a promoção de um processo criativo que dilui a força estrutural da imagem, dando vazão a um escoamento infinito de imagens à espera de codificação no corpo.

"É que Narciso acha feio o que não é espelho..."

No momento em que qualquer imagem acontece no corpo, o próprio fato de se efetuar já a unifica como objeto concreto. Esta unificação é um esforço do entendimento em organizar os perceptos captados pela visão. Neste processo, a imagem é codificada e aponta para um sentido que justifica sua efetuação. O sentido, portanto, não é inerente a obra, mas é efeito de interpretação da obra.



Fonte: Escola Burlesca de São Paulo
Autores: Flávio Soares Alves e Marília Vieira Soares
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Criado em fevereiro de 2012 o blog "Expressão da minha alma" é uma página que criei com o objetivo de compartilhar diversos assuntos relacionados ao mundo da dança, em sua maioria, questionamentos levantados por mim mesma ao decorrer da minha carreira de bailarina. Esse espaço é destinado principalmente a outros bailarinos, que assim como eu gostam de se manter sempre atualizados. Nós bailarinos vivemos em constante aprendizado e foi justamente com essa linha de pensamento que tomei a iniciativa de criar esse blog, afinal, ao publicar algo também estarei aprendendo cada vez mais sobre essa arte, pois antes faço uma breve pesquisa (quando necessário) para postar artigos de conteúdo, com isso, também estarei aprendendo cada vez mais sobre essa arte.

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