Dança é a escrita do movimento poético no espaço. Esta inscrita forma imagens de movimento que estão subordinadas a intenção do poeta, mas que, ao mesmo tempo, se projetam autônomas na sua plasticidade. Como o processo criativo lida com esta dual perspectiva da imagem?
Introdução
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Photo Bertil Nilsson |
Quando se observa o corpo na dança, a poética desta inscrita gestual no
espaço aguça o olhar do esteta, ampliando sua captação visual para
campos perceptivos que verificam mais do que mera composição articulada
de movimentos, em meio a esta inscrição linear.
O estado de transe, que consome a atuação do intérprete, se projeta para além de seu espaço pessoal e alcança o olhar do esteta, alterando sua percepção. O poeta do corpo faz da articulação motora uma plasticidade cênica e instiga o esteta, neste movimento, a adentrar nesta alucinação artística junto com ele. Poeta e esteta estão ligados um ao outro por este canal perceptivo, aberto à imaginação criativa. As imagens de movimento tecem esta tênue ligação no discorrer cinemático desencadeado pelo intérprete na performance e arrebatam os sentidos do esteta, numa súbita suspensão do entendimento.
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Alonzo King Lines Ballet Laurel Keen and Brett Conway - 2007 |
Como desdobramento desta ligação momentânea, quando o esteta se dá conta
do que está acontecendo, ele vê a imagem motora como manifestação
expressiva e por esta via, já nos domínios do entendimento e não da arte
em si, só lhe resta a lembrança motora que deu forma à dança. As
imagens dinâmicas da imaginação criativa se unificam numa estrutura de
imagem, formando uma possibilidade de representação.
O gesto expressivo é uma possibilidade de representação que se inscreve referindo-se a uma atividade interna pulsante no limite entre o físico e o psíquico. O resultado é uma imagem de movimento, ou seja, uma estrutura imagética corporificada, que só é como tal, na sua relação eventual com um sentido. "O material é dominado pela intenção do poeta" (JUNG).
O gesto expressivo é uma possibilidade de representação que se inscreve referindo-se a uma atividade interna pulsante no limite entre o físico e o psíquico. O resultado é uma imagem de movimento, ou seja, uma estrutura imagética corporificada, que só é como tal, na sua relação eventual com um sentido. "O material é dominado pela intenção do poeta" (JUNG).

Há, portanto, uma bivalência da imagem no corpo: ser efeito de um processo criativo que interliga poeta e esteta numa relação artística e ser imagem arbitrária na sua redução especular, isto é, ser unidade objetal, uma forma espaço-temporal, portanto, passível de reprodução e sistematização. A dança não foge desta dualidade e o artista encontra nesta bivalência, um alimento inesgotável de estimulação do seu fazer artístico.
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Sarah Lamb and Eric Underwood in Limen. Photograph Bill Cooper. |
O processo de criação da dança é o processo deste constante
ultrapassamento da imagem no corpo. Nos interessa verificar como o
artista mobiliza estes processos, mediante tendências imperativas,
representadas por imagens ideais descorporificadas, para a promoção de
um processo criativo que dilui a força estrutural da imagem, dando vazão
a um escoamento infinito de imagens à espera de codificação no corpo.
"É que Narciso acha feio o que não é espelho..."
No momento em que qualquer imagem acontece no corpo, o próprio fato de se efetuar já a unifica como objeto concreto. Esta unificação é um esforço do entendimento em organizar os perceptos captados pela visão. Neste processo, a imagem é codificada e aponta para um sentido que justifica sua efetuação. O sentido, portanto, não é inerente a obra, mas é efeito de interpretação da obra.
"É que Narciso acha feio o que não é espelho..."
No momento em que qualquer imagem acontece no corpo, o próprio fato de se efetuar já a unifica como objeto concreto. Esta unificação é um esforço do entendimento em organizar os perceptos captados pela visão. Neste processo, a imagem é codificada e aponta para um sentido que justifica sua efetuação. O sentido, portanto, não é inerente a obra, mas é efeito de interpretação da obra.
Fonte: Escola Burlesca de São Paulo
Autores: Flávio Soares Alves e Marília Vieira Soares
Autores: Flávio Soares Alves e Marília Vieira Soares
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